A separação entre vendas líquidas e impostos no ato da compra, somada às diretrizes da reforma tributária previstas para 2026, deve acelerar a adoção de máquinas inteligentes de pagamento
No mercado de adquirência, o split payment, em português, pagamento dividido, vai acelerar a migração das maquininhas tradicionais de pagamento (POS) do comércio para as smart POS, como explica Daniel de Los Angeles, executivo de novos negócios e parcerias da Boavista Tecnologia, empresa especializada em conciliação de recebíveis e integração com meios de pagamento.
“Os terminais de POS [máquinas de recebimento que não permitem atualizações de sistema, mas são muito usados pelos micro e pequenos empreendedores] ainda formam um parque muito grande no Brasil. Com um impacto tecnológico tão grande, será necessário desenvolver um sistema de identificação e apuração de tributos em uma tecnologia fechada”, afirma Daniel.
Previsto na legislação da reforma tributária, o split payment é o sistema que discrimina o valor líquido de uma compra e os tributos correspondentes (IBS e CBS, sobre bens e serviços) no ato da operação, direcionando automaticamente os valores respectivos do estabelecimento (venda líquida) e Fisco (impostos). Em janeiro de 2026, o sistema passará a ser adotado pelos estabelecimentos em formato de teste, com uso obrigatório a partir de 2027.
O cenário mais provável será a migração em massa para modelos smart POS, que permitem atualizações de sistemas e instalação de aplicativos, como os sistemas que já fazem a segregação de valores. “Uma migração para o smart POS já resolve”, assinala.
Trata-se de uma questão estratégica para as empresas, visto que os pagamentos por aproximação (cartões, celulares e relógios) representaram quase 70% do total das compras presenciais no primeiro trimestre, segundo o Balanço do Setor de Meios Eletrônicos de Pagamento da Abecs – Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços. Isso equivale a um volume de R$ 423 bilhões em compras por aproximação e 6,5 bilhões de operações no período.
Impactos do split payment
Segundo Daniel, os impactos do split payment vão além do mercado de adquirência. Para os lojistas, a readequação do caixa também será um desafio importante. Atualmente, o valor da venda vai todo para o estabelecimento e o imposto da operação é pago no mês seguinte. Com isso, o lojista usa o dinheiro do imposto a recolher como capital de giro. “No split payment, o valor já virá líquido para o caixa da empresa e o principal desafio dos lojistas será trabalhar sem o recurso destinado ao imposto”, observa.
De acordo com Daniel, setores como construção civil e bens duráveis serão especialmente afetados em função do grande volume de compras parceladas. “Quando as parcelas forem caindo, o mecanismo vai separar o imposto devido e o valor”.
Além disso, se essas empresas trabalharem com margens baixas, a liquidez pode ficar ainda mais comprometida. Nesse cenário, a gestão financeira adaptada a uma nova realidade fará toda a diferença, segundo Daniel. “Tem um ditado que diz que empresas não quebram por prejuízo, mas por falta de caixa. Então, o planejamento nesse sentido terá que ser forte”.
Para uma adaptação adequada ao split payment, o especialista acredita ser importante preparar a empresa o quanto antes. “No que se refere ao novo sistema, 2026 será um desafio grande para toda a área de tecnologia, sistema financeiro e a própria Receita Federal. Eles estão enfrentando seus desafios e é importante começar a trabalhar com essa nova realidade”, conclui Daniel.
